Qual a relação entre a prática da corrida e as doenças da coluna vertebral? 

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A corrida, esporte em franca ascensão global, tem atraído um número crescente de adeptos, impulsionados tanto pela ampla divulgação de seus benefícios para a saúde quanto pelo crescente foco da mídia em estilos de vida saudáveis, dietas, aptidão física e atletismo competitivo ao longo da última década. Esse cenário tem elevado os níveis de atividade física e despertado um interesse significativo pela corrida, tanto em sua forma competitiva quanto recreativa. 

Uma dúvida muito comum no consultório é a relação entre a prática de corrida e as doenças da coluna vertebral. Afinal, a corrida faz bem ou faz mal para sua coluna?
Essa relação é um tema que tem sido amplamente investigado pela comunidade científica, tendo em vista os impactos biomecânicos que a corrida pode ter sobre a coluna vertebral. Essa resposta não é simples e diversos fatores devem ser considerados, como a técnica de corrida, a superfície onde se corre, a frequência e intensidade dos treinos, além dos fatores individuais relacionados a cada paciente, como sua saúde cardiovascular e outros problemas ortopédicos. 

Os benefícios da corrida

A prática regular de corrida pode conferir benefícios substanciais para a saúde da coluna vertebral, ocasionados principalmente pelo fortalecimento dos músculos estabilizadores do tronco e pela melhoria da densidade óssea.  

Explicando de forma um pouco mais técnica, a corrida induz estímulos mecânicos que são essenciais para o fortalecimento dos músculos paravertebrais, abdominais e dos músculos do assoalho pélvico. Esses músculos desempenham um papel crucial na manutenção da postura e na estabilização da coluna durante movimentos dinâmicos, reduzindo assim o risco de lesões por sobrecarga e desgaste degenerativo dos discos intervertebrais.  

Além disso, o impacto repetitivo moderado associado à corrida estimula o processo de remodelação óssea, promovendo um aumento na densidade mineral óssea. Esse efeito é particularmente benéfico na prevenção de osteoporose, uma condição que pode comprometer a integridade estrutural da coluna e aumentar o risco de fraturas vertebrais. Assim, sob condições de técnica apropriada e intensidade controlada, a corrida pode ser uma prática altamente eficaz na promoção da saúde vertebral, contribuindo para um sistema musculoesquelético mais robusto e resiliente. 

E os riscos? 

Quando falamos sobre os riscos associados à corrida, levamos em consideração especialmente o impacto repetitivo e às forças que são transmitidas através da estrutura vertebral durante a atividade. Esse impacto repetido, gerado a cada passo, exerce uma determinada carga sobre os discos intervertebrais e as articulações entre as facetas vertebrais, podendo acelerar processos degenerativos como a degeneração discal e a artrose facetária. Além disso, a técnica inadequada de corrida e o desequilíbrio muscular podem levar a uma distribuição desigual de forças pela coluna, resultando em posturas compensatórias e aumento do estresse em regiões específicas.  Portanto, é importante que todos os corredores, desde os mais experientes até os que estão começando no esporte, adotem uma abordagem cuidadosa no treinamento, incluindo técnicas apropriadas, superfícies adequadas para a corrida e um planejamento de intensidade e volume de treino individualizado.
 

Mas afinal, o que a ciência diz? 

Um artigo publicado em 2020 na revista BMC Musculoskeletal Disorders, avaliou 19 estudos que analisavam a relação entre a corrida e a dor lombar. A conclusão do estudo foi que prevalência e incidência de dor lombar entre corredores aparentam ser relativamente baixas quando comparadas às da população geral e outras atividades esportivas populares, podendo a corrida ser considerada, com cautela, um fator protetor para a coluna lombar. Os fatores de risco para o surgimento da dor lombar geralmente estão associados a deficiências físicas ou a métodos de treinamento, os quais podem ser parcialmente modificados e gerenciados na prática clínica. 

Outro estudo publicado em 2021 na revista Physical Therapy in Sport, avaliou 2539 corredores italianos, através de questionários, para tentar entender a relação entre a corrida e a dor lombar. O estudo envolveu uma ampla amostra de corredores italianos e sugeriu que a prevalência de dor lombar entre esses atletas é baixa comparada a outras alterações relacionadas a corrida. Além disso, os resultados deste estudo não revelaram associações relevantes entre a dor lombar e fatores relacionados ao treinamento, equipamento ou estilo de vida, destacando a necessidade de mais pesquisas para explorar essas conexões. 

Quer começar a praticar corrida, mas não sabe se é o esporte adequado para você? 

Procure ajuda com profissionais capacitados e que vão te ajudar no processo! O importante é que cada corredor adote uma abordagem personalizada, considerando sua condição física específica, histórico de lesões, e técnica de corrida. Se praticada de forma correta, os riscos serão minimizados e os benefícios serão inúmeros para sua saúde! 

Referências:

  • Maselli, F., Storari, L., Barbari, V. et al. Prevalence and incidence of low back pain among runners: a systematic review. BMC Musculoskelet Disord 21, 343 (2020).  
  • Maselli, J.F. Esculier, L. Storari, F. Mourad, G. Rossettini, V. Barbari, D. Pennella, F. Cataldi, A. Viceconti, T. Geri, M. Testa, Low back pain among Italian runners: A cross-sectional survey, Physical Therapy in Sport, Volume 48 (2021)